terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Algumas Considerações Sobre a Ética a Nicômaco de Aristóteles.



A ética Nicomaquéia é a que trata dos conceitos de Aristóteles com maiores detalhes, se a compararmos com a Ética Eudemia do mesmo autor. Por esse motivo vamos nos concentrar em algumas discussões contidas na Ética a Nicômaco.



A análise do texto aludido, nos leva à conclusão de que, em sua ética, Aristóteles preocupa-se, acima de tudo, com o bem humano . Esse bem é determinado por dois fatores:



1) um fator bastante constante, a natureza humana , que se constitui de uma série de elementos corporais ligados a uma forma dinâmica por ele chamada de alma (psyché, donde se origina o adjetivo psíquico).



2) um segundo fator variável, o conjunto de circunstâncias concretas, chamadas pelos gregos de ocasião.



O homem que consegue organizar as possibilidades de sua própria natureza (sem rebaixá-las nem sobrestimá-las) e ainda leva em conta as circunstâncias que o rodeiam, utilizando-as como apoio e não como obstáculo à sua ação, alcança o bem que deseja, isto é, consegue levar uma boa vida.



Essa boa vida, que todo ser humano almeja, é o que chamamos de felicidade (eudaimônia),que se refere a uma certa forma de viver - não se trata de um estado mas sim de uma atividade do homem; tal atividade deve seguir certas normas coerentes com a natureza humana - no entanto, como a natureza humana é complexa e muitas vezes apresenta tendências opostas, é preciso submetê-la a certas regras ou critérios racionais que a equilibrem - conseguir esse equilíbrio é o que Aristóteles chama de possuir a virtude, componente essencial da felicidade.A virtude impede que tendências opostas entrem em choque trazendo efeitos destrutivos para o ser humano.



Aristóteles distingue dois tipos de virtude:



1) as virtudes intelectuais ou virtudes da mente.



2) as virtudes morais, que consistem no controle das paixões, movimentos espontâneos do caráter humano.



A virtude não é, diversamente da felicidade, uma atividade, senão que um hábito, ou maneira habitual de ser; como tal, não pode ser adquirida da noite para o dia, porque depende de muito exercício - repetindo certos atos o homem acaba por transformá-los numa segunda natureza, isto é, numa disposição (e não atividade) para no futuro agir sempre da mesma forma.



O processo é sempre o mesmo, sejam os atos bons ou maus : no primeiro caso temos a virtude e, no segundo, o vício.



Quando se adquire uma virtude, age-se de acordo com ela sem esforço e com prazer, porque se aje de acordo com a própria natureza ; o vício, ao contrário, acaba por trazer desprazer uma vez que se coloca contra a natureza.



A atividade daquele que age de acordo com os bons hábitos que adquiriu durante a maior parte de sua vida é o que chamamos de felicidade.A felicidade mais perfeita é a que se baseia no exercício da virtude igualmente mais perfeita, da virtude de maior excelência, a sabedoria, que é a contemplação das verdades fundamentais da ciência e da filosofia. Também a felicidade mais auto-suficiente, porque não precisa de bens materiais para se efetivar.



Vimos, portanto, que o objeto da ética aristotélica é o estudo da felicidade como supremo fim ou bem do ser humano. Mas, como a condição fundamental para a realização da felicidade é a virtude, e esta só pode ser adquirida mediante exercício e esforço, o homem tem que desenvolver mecanismos de ação que garantam a sua aquisição.Tais mecanismos são a educação e as leis. A educação deverá desenvolver no homem os hábitos virtuosos; as leis organizarão e protegerão o exercício da virtude pelos membros da sociedade.



Podemos concluir, afirmando que a ética tem o seu prolongamento no que se constitui no ápice da filosofia prática: a política.



Aristóteles, Ética Nicomaqueia, (Santillana, S.A., Madrid, 1997).



ARISTÓTELES E A JUSTIÇA



Na apreciação da doutrina moral de Aristóteles, deve-se dedicar especial atenção aos estudos específicos do filósofo, referentes à Justiça e ao que os gregos chamavam de Amizade, que, hoje em dia, denominamos sociabilidade, em seu sentido mais amplo.Os dois temas estão inclusão dos na ética a Nicômaco



De acordo com Aristóteles, todos estão em perfeito acordo em chamar justiça à disposição que nos faz capazes de realizar atos justos, que nos faz efetivamente realizá-los e que nos faz desejar realizá-los. O mesmo deve ser dito da injustiça, que nos faz cometer e querer atos injustos. Sirva-nos esta definição como definição geral.



O justo nos faz viver conforme as leis e a equidade; o injusto nos leva à ilegalidade e à desigualdade.



Também, ... designamos com uma única palavra, justo, tudo aquilo que é capaz de criar ou salvaguardar, em sua totalidade ou em parte, a felicidade da comunidade política. A lei prescreve, inclusive, a cada um, portar-se como homem valente e forte; manda, por exemplo, não abandonar o posto em combate; manda não fugir nem abandonar as armas; prescreve a sobriedade; manda, por exemplo, que não se cometa adultério nem se ultraje a ninguém; prescreve a sociabilidade: manda, por exemplo, não agredir nem falar mal de ninguém. O mesmo faz, referindo-se às outras virtudes e vícios; virtudes que manda praticar e vícios aos quais propõe entregar-se. Tudo isso de uma maneira conveniente, se a lei foi convenientemente elaborada; de forma deficiente, se a lei foi improvisada. A Justiça, assim entendida, é uma virtude completa, não em si, mas em relação a outra. Por esta razão, a Justiça parece ser a mais importante das virtudes e mais admirável que a estrela da tarde e a da manhã. E, por essa mesma razão, empregamos comumente esse provérbio: na Justiça está contida toda outra virtude.



Aristóteles distingue três tipos de Justiça:



1) Justiça distributiva, que leva em consideração a desigualdade de méritos. Assim se exprime o filósofo : No que se refere à Justiça parcial e ao direito que dela deriva, ela tem um primeiro aspecto distributivo, que consiste na distribuição das honras, riquezas e todas as demais vantagens que possam corresponder a todos os membros da sociedade. Se as pessoas não são iguais, não terão igualdade na maneira como são tratadas. Daqui vêm as disputas e contendas, quando as pessoas, em pé de igualdade, não obtêm partes iguais, ou quando, em pé de desigualdade, obtêm um tratamento igual. A coisa fica clara, se se tem em conta o mérito das partes. No que se refere às partilhas, todo mundo admite que se deve fazer de acordo com os méritos de cada um; sem dúvida, não se está ordinariamente de acordo sobre a natureza desse mérito: os democratas o põem na liberdade; os oligarcas, na riqueza ou na estirpe, e os aristocratas, na virtude.



2) Justiça reparativa, ou de emenda, que, ao contrário, restabelece o direito igual das pessoas. Como nos ensina Aristóteles, a lei são tem presente a natureza da infração, sem levar em conta as pessoas que ela põe em pé de igualdade. Pouco importa que seja este ou aquele que comete a injustiça ou a sofre, que seja este ou aquele que comete o dano ou o recebe. Por conseguinte, essa injustiça, que descansa na desigualdade, é a que se esforçar o juiz por corrigir. De fato, quando uma pessoa recebe pancadas e outro as dá, quando um indivíduo causa uma morte e outro morre, o dano e o delito não têm entre eles nenhuma relação de igualdade; o juiz tenta remediar essa desigualdade por meio da pena que inflige, reduzindo, através dela, a vantagem obtida. Se emprega comumente essas palavras num sentido geral nos casos dessa natureza, embora a expressão não parece convir a alguns deles; por exemplo, se diz do proveito do que bate em outro e do prejuízo do que é golpeado. Mas, quando o juiz avalia o mau trato, o primeiro vem a ser o que perde e o segundo o que ganha. De maneira que o igual vem a ser o exato meio termo entre o mais e o menos. ... Em consequência, a Justiça corretiva ou reparativa será o termo médio entre a ganância de um e a perda de outro. Por isso, quando ocorre entre os homens alguma diferença, eles recorrem ao juiz, que é, por assim dizer, a Justiça encarnada. Finalmente, a injustiça cometida deve ser voluntária, deve proceder de uma eleição deliberada e deve ser anterior a toda ofensa; de fato, não se comete injustiça quando se foi vítima e se devolve mal por mal.



3) Justiça comutativa, que parece dizer respeito à troca de serviços, tendo, portanto, um caráter econômico.

Muito do que Aristóteles aborda no campo da Justiça deriva das condições sociais e econômicas da sua época.

No entanto, interessa à teoria geral da Justiça sua afirmação de que a injustiça se situa nos dois extremos entre os quais está a Justiça. O extremo, isto é, o injusto exigindo mais vantagens e menos encargos dos que os que lhe são devidos é, a um tempo, um excesso e um defeito, ou no mesmo sujeito ou em dois sujeitos diferentes, conforme se considere o autor ou a vítima da injustiça.



A moral de Aristóteles foi incapaz de alçar-se acima dos preconceitos de seu meio - dedica-se a explicar em que casos o próprio direito natural perde autoridade diante do direito de família. Uma vez que, diz ele, ninguém pratica injustiça contra si próprio e o escravo e a criança são partes daqueles de quem dependem (o dono ou o pai), nenhum dos dois possui direito - se não têm direito, não pode haver injustiça para com eles!



O direito familiar atribui à mulher um estatuto político superior.



Como vemos, o filósofo adapta suas idéias aos costumes vigentes, sem procurar alterá-los.



Aristóteles, em sua ética, refere-se à amizade , afirmando que o Homem, mesmo aquele que alcançou os mais altos níveis de intelectualidade, continua sendo o vivente sociável e nascido para a vida em comum. Seria, assim, estranho pretender que, mesmo aqueles que exercem a atividade mais elevada e agradável - a contemplação -, pudessem viver solitários e encerrados em si mesmos. Preciso que haja colaboração, homens entregues ao mesmo esforço intelectual, sustentando-se, mutuamente, em seu esforço. Tal amizade ou sociabilidade, orientada para o que é realmente mais útil, propícia a especulação desinteressada.



Aristóteles expressa uma decidida preferência pela lei não escrita sobre a lei escrita, talvez porque deseje evitar o erro (do qual a democracia ateniense era frequentemente acusada) de transformar a lei em instrumento puramente pragmático da vontade do povo; para Aristóteles como para Platão ela deve ser mais do que isso: deve incorporar princípios imutáveis de conduta correta que têm de estar idealmente no controle de toda atividade legislativa.



Procurar a Justiça é procurar uma autoridade neutra; e a lei é uma autoridade neutra. Mas as leis que repousam no costume não escrito são ainda mais soberanas e dizem respeito a assuntos de importância ainda mais soberana do que as leis escritas; e isso sugere que, mesmo que o governo de um homem seja mais seguro do que o império da lei escrita, pode não ser mais seguro do que o império da lei não escrita.



Referências Bibliográficas:



Aristóteles, Obras, Aguillar S/A, de Ediciones, Madrid, 1.967.

Morrall, J. B., Aristóteles, Ed.. Universidade de Brasília, 1.985.

Robin, Leon, A Moral Antiga, Ed. Despertar, Porto, 1.970.





ASPECTOS DA METAFÍSICA





ON - ENTE (particípio passado do verbo enai)

ENAI = SER - o que é

ONSIA - SUBSTÂNCIA (p. passado do verbo enai)





Toda realidade é transformável; cada realidade busca seu ato; enquanto a coisa ou realidade tende a aperfeiçoar-se, ela é potência; toda realidade tende à perfeição que se encontra onde não tem potência, ou seja, tende ao ato puro.



O ato puro pode ser comparado a um imã atraindo a limalha de ferro, isto é, toda realidade, todas as coisas, são atraídas para o ato puro, para ele convergindo em busca da perfeição.



O ato puro é , para Aristóteles, Deus, causa final, ou seja, a razão de ser de todas as coisas.



Cada uma dessas realidades é um ENTE, (em grego, on, em latim, ens); alguns desses entes têm ONSIA, isto é, consistência própria: é a substância, oposta ao acidente. O acidente não tem consistência própria, uma vez que só pode existir na substância.



Nós podemos conhecer as coisas através dos nossos sentidos, formando conceitos; os conceitos são idéias que adquirimos, não apenas pelas simples justaposição das qualidades percebidas pelos sentidos. Seu conteúdo é a íntima razão de ser delas, isto é, a sua quididade, a essência de cada objeto, que é representada pelos conceitos; - quididade - quid est res, o que a coisa é, o tipo de ser a que pertence. Ex: o conceito de circunferência representa uma determinada essência, quididade, tipo de ser, que aqui é uma figura geométrica determinada, que, permanecendo sempre uma e a mesma quanto à sua forma, (= quanto à sua significação e conteúdo: figura plana fechada cujos pontos são equidistantes de um ponto chamado centro), contudo, se pode achar numericamente multiplicada em várias circunferências, de modo que todas elas e de cada uma pode-se dizer que é uma circunferência. Assim os conceitos de homem, casa, ouro, árvore, etc... : todos os que representamos com nomes comuns.



A essência, contida na idéia, é algo de imaterial. Mais outro exemplo: diante do triângulo ABC, que pode ser traído no quadro negro com giz, os sentidos percebem esta figura individual, material, concreta, existente neste quadro negro. A inteligência, ao contrário, vão nesse triângulo aquilo que o faz ser triângulo, a sua essência (= figura fechada com três ângulos), o tipo abstrato, imutável, possível, realizável e concretizável em infinitos triângulos, e todos possuirão essa mesma essência, na qual todas as propriedades do triângulo terão razão de ser. A realização do tipo nesse triângulo poderia não acontecer: basta apagar a figura traída no quadro negro. O tipo desse triângulo, no entanto, já era possível antes que se desenhasse o triângulo ABC no quadro negro e continua eterno e imutável, mesmo depois que ABC foi apagado.



Nossos sentidos atingem, no objeto, apenas a parte sensível que é mutável e concreta; a inteligência abstrai o que é imutável e necessário.



O SER é o objeto da metafísica, cognoscível através de nossa inteligência, que é destinada a conhecer o que é, ou seja, o SER imutável e eterno, o SER enquanto SER.



ARISTÓLES: DO SER



Segundo Aristóteles, o ser é uno intrinsicamente, estavelmente e necessariamente. O que garante que o ser tenha esse sentido é o princípio de contradição: é impossível que uma coisa seja e ao mesmo tempo não seja. O princípio de contradição é, portanto, o fundamento da metafísica: o ser, enquanto ser, é necessariamente.

Esse ser, estudado por Aristóteles, é a substância, o quid da coisa, princípio e causa de todo ser. A substância (ousia) é, para ele, apenas o ser real individual, o singular: um homem, uma pedra, uma planta.



O ser é identificado por Aristóteles com a substância: esta unidade substancial que é o indivíduo, possui matéria e forma: a matéria é o princípio da individuação (isto é, o conjunto de acidentes que faz com que este ser seja este ser e não outro); a forma é a essência comum aos indivíduos da mesma espécie, pela qual todos eles são o que são (todos os homens são animais racionais). Assim, para Aristóteles, todo indivíduo ou ser vivente é a síntese desses dois princípios: a matéria e a forma. A matéria é o substrato indeterminado onde vai ocorrer a mudanças (por ex., o bloco de mármore de uma estátua ou a matéria orgânica no ser vivente); a forma é o tipo que a matéria tende a ser em ato (a idéia que o escultor realiza na estátua, a forma da espécie no ser vivente). Um ser não será qualquer outro, mas aquele que tem em si imanente em potência: por ex. uma semente de feijão tem em si, potencialmente, o pé de feijão e jamais será outro vegetal. Todo ser tende a por em ato a própria forma, este é o fim a que tende todo ser: assim, a forma é a causa final . O que dá impulso ao movimento é a causa eficiente ou motriz (os movimentos do escultor para gravar sua idéia no mármore).



Aristóteles distingue, assim, as quatro causas do devir (vir a ser): 1) Causa Material, elemento primitivo e constitutivo de todas as coisas; Causa Final, o fim pelo qual as coisas são feitas; Causa Eficiente, a causa que produz as coisas, e a Causa Formal, que é a forma ou essência de cada coisa. A causa eficiente e a final são apenas aspectos da causa formal: a eficiente é a motriz dos vários graus do desenvolvimento e a causa final é a perfeição à que o ser tende. Assim, a Matéria e a Forma são os dois princípios do devir, sem que estejam submetidas a ele - quem vem a ser é o indivíduo. A matéria é o substrato imutável e as formas, cada uma delas, eterna e indivisível, estão nos seres desde a eternidade.



Matéria e forma não podem ser separadas: não existe nenhuma matéria que não tenha forma, nem forma sem matéria. Apenas Deus é forma sem matéria.



Para Aristóteles, a matéria é a potência e a forma, o ato. A matéria é a potência de se tornar uma forma ou ato. A passagem da potência ao ato é o devir, que se situa entre dois limites extremos: a matéria pura e o Ato puro, que é Deus, pura forma. O fim último do devir é Deus.



A passagem da potência ao ato implica em movimento - todo movimento pressupõe um motor - o movimento da natureza em geral pressupõe um Motor Imóvel, ou se faria necessária uma causa para o seu movimento, outra causa para este novo movimento e assim, sucessivamente, até o infinito. O Motor Imóvel é Deus, Causa primeira do movimento universal: Ele é Ato Puro, Perfeição absoluta. Ele contém em si todas as puras formas, porque elas são o objeto do seu pensamento. A ordem do universo é a ordem do seu pensamento. O mundo existe desde toda eternidade e, portanto, não foi criado. Podemos concluir que, em Aristóteles, continua a existir o dualismo (existente em todo pensamento pagão), da Matéria (imperfeição) e da pura Forma (perfeição).



Aristóteles não trata do conceito de criação.



Platão é o filósofo do Ser, Aristóteles é o filósofo do real (da natureza) e o filósofo da ciência. Platão apontou o ser como primeiro princípio, Aristóteles, a substância, que é o real.

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