terça-feira, 30 de março de 2010

Comentário

Paradoxos de Jack Bauer, da série "24 Horas", não cabem no governo Obama
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

De tudo o que a ficção americana pariu nos anos Bush, nada é tão significativo e interessante quanto Jack Bauer e sua missão de salvar os EUA de ameaças terroristas cataclísmicas. Quando o reloginho digital bipar na tela os últimos segundos do oitavo dia na vida do personagem, daqui a dez episódios, muito mais do que uma série de TV terá acabado.
O que está se vendo agora é a lenta transição de um modo de pensar. E nos EUA de Barack Obama já não cabe Jack Bauer e os paradoxos nele contidos. Nem é que muito tenha mudado na prática -o Iraque apaziguou um tanto, mas no Afeganistão a guerra acirrou; Guantánamo segue aberta; e mesmo com um acordo para o desmantelamento nuclear assinado, os EUA estão longe de abdicar do arsenal. Não são tempos de paz.
Mas as prioridades são outras. O heroísmo hidrófobo de Jack já não serve mais.
Sua flexibilidade ante a lei e a moral comum, para seguir a sua própria por uma causa até então dita urgente, já não pode ser admitida em um país onde o medo de pagar as contas se tornou mais premente do que o de se explodir em um avião. Contraterrorismo não pode ser pop, ainda que siga necessário.
É verdade que o agente imaginado por Robert Crochan e Joel Surnow -e que o ator Kiefer Sutherland trouxe brilhantemente ao mundo quando ainda estávamos estarrecidos com o 11 de Setembro- estava cansado, perdido até. Os roteiros nas últimas três temporadas já não hipnotizavam como no início. No máximo ficou aquele interesse medido pelas desventuras de um sujeito que se tornou bizarramente familiar dado seu cotidiano de executar o chefe e ameaçar matar os filhos de suspeitos em troca de confissões.
A verossimilhança havia deixado de ser uma preocupação. E, com o fim da era Bush, é notório como tornar o agente crível se tornou mais custoso. "24 Horas" sempre foi uma coisa só: Jack Bauer e sua missão solitária de salvar o mundo. Se Jack não é mais aceitável nem verossímil, então não há do que se continuar falando. Não por isso, porém, será menor seu papel no imaginário pop político recente dos EUA.

Um comentário:

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