sexta-feira, 5 de março de 2010

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5 de março de 2010 | 18h10

Paul Krugman

Dívida pública líquida

Gastos públicos britânicos desde ano fiscal 1692 até 2011



No início desta semana fiz uma palestra no Laboratório de Física do Plasma da Universidade Princeton sobre o estado atual da crise e um membro do público fez uma excelente pergunta: se o problema está no fato de os juros estarem no limite inferior zero, por que deveríamos nos preocupar com os empréstimos tomados pelo governo? Afinal, isso não significa que o governo pode solicitar empréstimos com juro igual a zero?

Bem, parte da resposta é que realmente não desejamos ver o governo financiando a si mesmo principalmente por meio de um endividamento de curto prazo – isso o torna excessivamente vulnerável a crises de liquidez. Mas até as taxas de juros de longo prazo estão baixas – os juros reais sobre os títulos com vencimento daqui a 10 anos estão abaixo de 1,5%.

Se fizermos o cálculo dos encargos da dívida, o resultado realmente parece sugerir que o endividamento não é um problema. Para estabilizar o valor real da dívida, tudo o que o governo precisa fazer é pagar os juros reais sobre ela. Suponhamos então que o governo incorra numa dívida equivalente a 100% do PIB, o que está muito além das projeções atuais; o pagamento dos encargos dessa dívida comprometeria apenas 1,4% do PIB, ou 7% dos gastos federais. Por que deveríamos considerar isso intolerável?

Poderíamos argumentar que até mesmo este cenário proposto seria pessimista demais. Para estabilizar a proporção entre dívida e PIB, é necessário apenas pagar r – c, sendo r os juros reais e c a taxa real de crescimento da economia. Bem, no momento, o resultado de r – c é negativo.

Essa visão benigna do endividamento não é apenas hipotética: no mundo real, países acumularam imensas proporções entre dívida e PIB sem terem caído na insolvência: basta olhar para o caso britânico no gráfico acima.

Assim sendo, onde está o problema? Na confiança. Se os investidores que compram títulos da dívida começarem a perder a confiança na eventual disposição de um país de acumular mesmo os superávits primários mais ínfimos necessários ao pagamento dos encargos de uma grande dívida, eles exigirão um aumento nas taxas de juros, para o pagamento das quais serão necessários superávits primários ainda maiores, e isso pode se transformar numa espiral mortífera.

Quais são os fatores determinantes dessa confiança? O nível de endividamento em si tem alguma influência – mas não é como se houvesse uma linha vermelha, estipulando que as coisas vão mal quando se avança para além de 90% ou 100% do PIB; basta observar o gráfico acima. Em vez disso, a confiança parece estar muito mais relacionada ao grau de responsabilidade aparente da elite política.

Isso significa que, se você está preocupado com a posição fiscal dos EUA, é melhor não se concentrar no déficit deste ano, e muito menos nos 0,07% do PIB em benefícios contra o desemprego que Bunning tentou barrar. Em vez disso, é melhor se preocupar com o momento em que os investidores perderão a confiança num país em que um partido insiste simultaneamente que um aumento nos impostos está fora de questão e que tentar controlar os gastos do programa Medicare significa criar “comitês da morte”.

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